O despertador tocou às 05:30 e apesar daquela mania de apertar o sleep time a cada 8 minutos, ela resolveu enfim levantar. Pé ante pé, ainda no escuro e silêncio, chegou ao banheiro tentando não fazer barulho, lavou o rosto, escovou os dentes, penteou os cabelos selvagens e rebeldes, amarrou em um ponto e finalizou numa trança. Trocou de roupa e sentou na cama. Calçou-se no esquema: meia, tênis, meia, tênis. Colocou a faixa verde na cintura, conectou o fone de ouvido ao celular, apertou a playlist bikerun, abriu a porta com a sua chave e desceu as escadas. Apertou o Garmin e iniciou o aquecimento. Correu em um ritmo inicial com pace baixo. Pensou que toda a preparação para a marcação do treino do dia daria certo. Seguia na ciclovia da L2 destino Asa Sul, avistando a formação de nuvens escuras e densas e fortalecendo a sua preocupação com a chuva que iria cair. Dois quilômetro e meio à frente decidiu iniciar os tiros. O primeiro, o relógio não marcou. Parou pra descansar e entender. Por que não marcou? Futucou daqui e dali e não conseguiu acertar. Resolveu tentar no manual. Seguiu em frente. A volta era uma subida só, mas o que é uma subidinha contra uma determinação? Foi em frente e entrou na rua lateral do prédio. Próximo à L2, na calçada de um quiosque, havia um morador de rua dormindo em sono profundo. Temeu acordá-lo com a correria, mas nada, nem se mexia, parecia dormir o sono dos justos. Iniciou então a série de 13 tiros. Vai e volta, subida-descida. A chuva agora não era mais ameaça, começou a cair com gosto no último minuto do segundo tempo. Deu pra fazer. Subiu feliz. Quando falou que o Garmin e ela não haviam se acertado, ele a olhou com aquela cara de sempre. Falou que carecia de um pouco mais de esforço pra aprender. Colocou na cabeça: ser independente: um plano de vida.
Texto: Wandréa Marcinoni
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