Das insignificâncias

Afaguei teu corpo no primeiro dia. Pequeno abrigo: meus braços. Passei as mãos nos cabelos porque passou pela cabeça minha cabeça que estive distante por 1 ano e meio. Perdas irreparáveis foram o minuto e a tarde que não estive contigo. Afinal, tua falta eu só senti quando amanheceu. Foi puro esquecimento não te ligar. Pra quê? Você estaria no pilotis quando eu quisesse. Mas eu não quis. Só olhei pela janela através das grades brancas programadas como códigos de barras presos ao prédio. Da bancada verde catei as folhas lá de baixo. Eram secas, caídas, sem vida, mas montei pequenos jarros inexistentes, pomposos, transparentes, escorados contra a pequena parede lateral. Era pra crescer dali uma flor, uma flor que eu desconheço, mas que achei que cresceria, porque achei que você vira para aguá-las. Liguei a luz dentro da sala. O lustre central pendente, imitando um candelabro do avesso me lembrou que era sábado e que você não veio. As folhas caíram como pó, pela janela, no chão meio verde, meio terra, meio vermelho, meio quadra. As folhas e flores viraram pó misturado no barro vermelho. O vento bateu, a poeira subiu. Subiu como um redemoinho artificial. Caiu nos meus olhos aqui em cima. Olhei pra baixo. Você não veio. 
Texto: Wandréa Marcinoni
Foto: Fábio Oliveira

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