Em uma cidade portuária que já foi um dia uma antiga vila de pescadores e hoje abriga um conglomerado de prédios da mais moderna indústria farmacêutica, pairava uma nuvem de fumaça azul, que se moldava nas paredes, entrava pelas janelas e contaminava os habitantes em uma onda frenética de estímulos. Conta a lenda que desde os idos dos anos 90, aquela mudança se instalara. As sensações se misturavam e iam desde o acelerar dos batimentos cardíacos, a dilatação dos vasos e poros até o bombear de sangue do coração para a aorta disseminando as pequenas partículas da pílula azul. Há quem diga que a história é controversa e aposta na contaminação da água, que quando ingerida libertaria de forma afrodisíaca todos os desejos e pecados e que o fato seria fisicamente perceptível em alguns marmanjos da região. Seja lenda ou não, a cidade hoje é visitada por quem deseja experimentar os temperos sexuais da chamada fumaça do amor. Alguns já falam de bom grado e com a satisfação de um sorriso nada disfarçado, que vai de orelha a orelha que quem respirou aquele ar, bebeu daquela fonte, de lá nunca mais voltará.
Texto: Wandréa Marcinoni
0 Comentários