Francesinha


De tudo que ficou...lembro de uns livros na estante, uns clips na gaveta...um balde de gelo transparente com propaganda de licor.
De tudo que ficou há alguns armários quebrados, caixas por baixo das roupas, um box com linhas e poucas agulhas.
Há também a geladeira e o fogão, este recém comprado...o sofá já desgastado e a estante com construção irregular.
As paredes ficaram vazias...o som nunca mais tocou...os telefones pifaram...por ausência dos fios.
Troquei o computador e a roupa de cama.
Os imãs colecionáveis foram postos em uma caixa de papel colorido devidamente armazenada no fundo do guarda-roupas.
As fotos que ficaram na sala foram trocadas.
Os álbuns continuaram ali.
Minha alma saiu pra passear.
Os meus pés de tão cansados ficaram repousando no ar.
Os minutos foram longos como os anos.
O tempo passou como passam as horas em um relógio parado.
Da minha boca as palavras não saíram...se mantiveram mudas como estavam antes de tudo.
Não foram fatos, ocorrências ou coisas palpáveis...foram o nada no meio do nada.
Foram sem sentido ou significado.
Foram dor, angústia, desespero e apatia.
Foram esperança.
Esta última entreguei a um pirata...que de passagem a levou em sua embarcação.
O destino do corsário não se misturou ao meu...apenas se desfez...
Ele chegou à conclusão que na vida é melhor seguir sozinho...
Ela em meio aos estilhaços, balas perdidas, rodopios e ladainhas tornou-se imagem...estátua...reflexo...e por fim raio de luz.
Texto: Wandréa Marcinoni baseado nas memórias da carochinha
Imagem:Shunya Yamashita

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