A casa

Outro dia quando ela saía de casa, lembrou como era alguns anos atrás.
Lembrava das roupas na varanda.
Das roupas que caiam umas sobre as outras.
Das portas duplas compradas por acaso.
Lembrava das chaves trocadas.
Por um tempo foi tudo tão embaçado, tão visualmente imperfeito, tão difícil de entender.
Ela carregava o peso do mundo.
Não percebia o giro das coisas à sua volta.
Permaneceu assim meio dormente por quase um ano.
Quando acordou não queria ver.
Começou a andar de óculos escuros.
Escondia as mãos no elevador.
Mal saía de casa.
Trabalhava e na época o trabalho era terapia.
Era onde esquecia por vezes o gosto amargo.
Caminhou.
Não esqueceu de tentar.
Buscou como poucos a alegria de viver.
Tropeçou daqui e dali.
Entrou na sala.
Viu as portas e janelas fechadas.
Ouviu palavras de consolo.
Um dia, fechou o coração.
Nada há de entrar.
Há de ser feliz assim
Era engano.
Não esquecia.
Seu coração continuava vivo.
Pedia todo dia pra enchê-lo de amor.
Ela seguiu.
Procurou.
Encontrou.
Ela encontrou.
Texto: Wandréa Marcinoni



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