Guerra dentro da gente


(…)

- Quer aprender a arte da guerra?

Sem esperar resposta, o velho disse:

- Esteja aqui amanhã, quando a cor da água do rio passar da cor da asa do estorninho para a cor do nenúfar.

O garoto foi pra casa, pensando: amanhã.

(…)

Manhã cedinho, à primeira luz e ao primeiro passarinho, o menino acordou e saiu devagar, todo mundo dormindo.
Lá estava o velho.
Caminhou até a ponte, aproximou-se do homem e disse:
- Estou pronto.
- Você não serve para a arte da guerra.
- O que foi que eu fiz de errado?
- Qual é o seu nome?
- Baita.
- Você não serve para a arte da guerra, Baita. Não te disse para estar aqui na hora em que a cor do rio passa da cor da asa do estorninho para a cor do nenúfar?
- Estorninho, eu sei o que é, meu pai me disse. Mas o que é nenúfar?
- Não interessa. Porém, se você ainda quiser aprender a arte da guerra, esteja aqui amanhã, quando a voz do vento deixar de dizer adeus e começar a dizer venha.

(…)


Texto: Paulo Leminski
Imagem: Nenúfares de Monet

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