Da solidão


Quando Miguel perguntava quem era a sua mãe, ou onde morava o seu pai, o avô tossia para um lado, tossia para o outro, arranjava um resfriado, uma dor nas costas e só lhe respondia: “Ô Miguel, a sua mãe já volta. Daqui um pouco ela volta…” Mas a mãe nunca voltava, nunca.

Ele desmanchando as rabiolas. Ele olhando no portão. A cada laço que desfazia era uma esperança que se soltava, e ele já tinha reparado: quando as pipas voavam embora, elas voltavam para nunca mais.

O avô dizendo: “Ela já volta…” O relógio dizendo: “Ela já volta… ” e outra volta e outra volta… o relógio faz volta, mas o tempo, não. A latinha dando voltas na linha. O avô enlaçando o menino nos braços, dizendo que o abraço era só um ponto que a vida dava para costurar o amor.

Texto: Rita Apoena
Imagem: Holly Clifton Brown

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