Havia um garoto que não sabia amar e por isso sua vida mais parecia uma ausência. Se alguém lhe demostrava afeto, ele mal reconhecia, se ofereciam presentes pelo simples fato de evidenciar sua importância, dizia tratar-se apenas de uma compra...Se lhe sorriam, dizia ser sarcasmo. Uma foto bonita...pra ele era mal enquadrada...um dia de sol, nada mais que acentuava seu tédio.
E assim transformava um dia lindo em noite de tempestade e aquele que se aproximasse bem de perto para enxergar a verdade por trás das suas várias camadas e por assim dizer representar uma ameaça à sua frágil segurança estaria fadado à vingança. Nunca foi feliz. Então porque traçar momentos de sonho?...pra que dizer que a vida é bela? pra que se encantar com o canto dos passarinhos e sorrir como criança?
Mas eis que cruzou o seu caminho a menina sonhadora...mas eis que ela achava tudo belo...e se encantava com borboletas coloridas e amava pequenas coisas e brincava de bailarina.
Como ela podia atravessar seu pequeno mundo? Tentou mostrar à ela a imperfeição e a melancolia...tentou dizer à ela que as sombras na parede eram da mais pura perfeição. E eis que a escuridão cegou os olhos da alegre menina...e o que ela lembrava era sua face mais negra...seus dias mais tristes. E isso durou alguns anos. Mas veio a chuva e infiltrou as paredes da escura caverna. E um dia uma parte caiu. E de uma pequena fresta surgiu o clarão de luz que alumiou seus olhos...e ela viu de novo a luz do sol, as borboletas coloridas, as flores que invadiam o jardim...e viu que dentro dela havia uma vida inteira de possibilidades ainda não vividas e experimentadas...e foi então que de novo, a pequena sonhadora, sonhou. E sonhou cada dia mais forte...como nunca havia feito...e tirou seus velhos sapatos...e caminhou descalça...e deu de costas para a tristeza...e sorriu sem sentido...como sempre, como sempre havia feito.
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