O despertador insistia em tocar. Ela apertava a função soneca a cada 5 minutos como se ainda restasse alguma chance de dormir sem hora para acordar. Alguns raios de luz teimavam em entrar pelas brechas das cortinas e foi então que ela se deu conta: é agora ou nunca! Levantou em um pulo, dobrou as roupas de cama, tirou o pijama hospitalar e enfiou na mochila vermelha inseparável. Juntou cada caquinho de si mesma, pegou suas tralhas e desceu a tempo de bater o ponto com algum atraso, O que no final das contas não significava nada. Foi pra casa e ao entrar soou o alarme dos sem café. Correu deseperada ao mercado mais próximo. Precisava de um filtro, não mais do que isso. Enquanto procurava sentiu o cheiro do pão quentinho saído do forno. Resolveu então esperar, afinal, já estava ali mesmo. Chegou em casa pela segunda vez. Já era a hora de levar o filho para a natação. Um café rápido e foi à luta. Água fria, tempo quente. Em casa agora pela terceira vez. Tomou um banho, almoçou e seguiu: pega kit, vai ao salão, ressonância, o laudo normal, a comida, a sobremesa, o vaso rosa, a vida. Retorno, ansiedade, desafio, a escola, o enfadonho perceber que a luta é grande e os desafios sem fim. O ir dormir, o choro, a birra, o curativo pras dores da alma. Não tem, não pára. Sobe na cadeira e grita. Mas grita bem alto que a vida é combate que aos fracos abate e aos bravos aos fortes só faz exaltar.
Texto: Wandréa Marcinoni
Imagem: Benjamin Lacombe
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