O mundo de Sofia

Quando ela sonhou, não era bem assim.
As coisas não tinham essa forma.
Braços, pernas, rosto, corpo.
Nada tinha esse jeito.
Ela carregava em seu ventre uma mini pessoa.
Carregava a pessoa que ela não foi.
Era uma pequena, loirinha, olhos cor de mel e sardas.
Era uma menina de sonhos.
Ela carregava e olhava sua barriga e seu sonho.
Às vezes sentava no sofá da sala e fazia como mãe, carinho em quem não via.
A música no som.
Clássicas músicas de ninar sonho.
Sonho cultivado 1, 2,3.
E não veio.
Ela se encolheu no canto.
Falou uma prece que não lembra qual foi.
Se trancou no banheiro pequeno.
Sentou ao lado da pia e leu uma oração escrita em papel.
Se fosse ela.
Ela não veio.
Ela de pés pequenos.
Pensou que queria vesti-la, alimentá-la, acalentá-la e dar tudo o que não teve.
Ela pensou e sonhou.
Parecia balão branco de história em quadrinho.
Balão que estoura com a tal realidade.
Ela queria mais, ela queria.
Não veio e o que restou foram as fotos que não tirou, os dias não celebrados, o abraço não dado e a mão amiga.
O que restou foram móveis baratos, palavras exaustas e corpo sem vida.
O que restou foi ela e só ela sabe porque restou.
Texto: Wandréa Marcinoni
Imagem: Olivia Bee

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