Apesar dos constrangimentos e dos esforços da mãe, a menina continuava num choro compulsivo. Os passageiros ao redor tentavam não demonstrar o desconforto que sentiam. Ao mesmo tempo, ao menos aqueles que já haviam experimentado situação semelhante, compadeciam-se da pobre mulher.
O russo, com toda a impaciência que lhe era peculiar, demostrava de fato a que havia vindo. Antes havia reclamado da falta de espaço para acomodar sua bagagem de mão, como se o fato de ter chegado por último e portar uma mochila tão grande como a de todos os outros fosse culpa dos demais passageiros. Quando se levantou pela segunda vez em menos de uma hora para ir ao banheiro, o casal que já estava incomodado pela cena anterior passou a se sentir intimidado.
Até ali a viagem que já durava 18 dias dos 21 programados foi perfeitamente dentro do planejado. Uma lua de mel sem casamento de dois namorados que se conheceram 6 meses antes e que viviam uma paixão intensa que fazia com que todos os momentos que haviam vivido nos 30 e muitos anos parecessem esmaecidos por uma sensação de que haviam se conhecido desde sempre.
O homem ao seu lado, estava vivendo situação semelhante com seus vizinhos de poltrona. Fizeram o check-in em cima da hora, de forma que teve que viajar desacompanhado de sua esposa , que viajava na poltrona de trás e parecia incomodada com o senta -levanta -senta do marido e com a perspectiva de quatro horas de viagem até Lisboa. A viagem de volta é sempre mais cansativa que a da ida, apesar da distância ser a mesma.
Tão logo o avião passou da zona de turbulência, a situação voltou a se acomodar. A mamadeira quente teve o efeito sonífero que usualmente causa nos bebês. O russo colocou seu iphone para tocar música e isto pareceu acalmá-lo. Tudo o que restou foi o amor do casal de namorados em lua de mel, o barulho constante das turbinas e todo o tédio e a monotonia que são inerentes às viagens de avião.
Imagens: Arquivo pessoal
Texto: Max Moura Wolosker
Fatos: Verídicos
Russo: Sem educação
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