Entre os sonhos espalhados e as imagens disformes, amparada por meia dúzia de rostos apagados, tropeçando em cacos, tentando desviar aqui e ali, cambaleou e caiu sobre as páginas do livro alaranjado. Os olhos cheios de lágrimas tornavam mais imperceptíveis as imagens. É que estava tudo borrado, sem cor, sem nada. Eu, juntei os restos que havia, não pedi apoio, não é o meu costume. O hábito é que faz o monge. Caí mais vezes, pois não é fácil quando se teme qualquer coisa que se assemelhe. Já não sei tanto das lágrimas como sabia antes. A quem falei, falei por vontade e confiança. O arrependimento que houve foi pela inocência que por vezes pode ser desacreditada. Meus ombros ainda carregam o peso das cruzes que me impus carregar. Há marcas que não somem. Não me parece útil tentar removê-las, pois sua remoção pode levar-me à vulnerabilidade. O medo passou a ser um sentimento constante. Agora estou em cinco e cada abalo parece terremoto. Cada incerteza, palavra ou ação me parece o futuro desintegrado. Me dá vontade de voltar pra o local seguro de onde por vezes penso não deveria ter saído. E quando o seguro não é o certo e a vida se impõe assim? o que fazer? O costume é deixar a vida ser dona dos meus passos. Não os dou. Sento e aguardo. Aguardo o tempo. O tempo senhor da vida.
Texto: Wandréa Marcinoni
Imagem: Ann Mei
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