POEMA DA NECESSIDADE




É preciso casar João,
É preciso suportar Antônio,
É preciso odiar Melquíades,
É preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
É preciso crer em Deus,
É preciso pagar as dívidas,
É preciso comprar um rádio,
É preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
É preciso estar sempre bêbado,
É preciso ler Baudelaire,
É preciso colher as flores
De que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens,
É preciso não assassiná-los,
É preciso ter mãos pálidas
E anunciar O FIM DO MUNDO.

Carlos Drummond de Andrade

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