A substância do nada


No dia em que chegou àquela casa, era uma noite após A noite.
Naquele dia não havia auroras e luzes no horizonte.
Havia a força do pensamento e dos sonhos que ela cultivava em sua horta caseira.
Parecia haver bromélias, acácias, pétalas de rosas dispersas nos pequenos ambientes e suas favoritas que eram os girassóis.
Os girassóis, esses sim, mantinham acesas suas esperanças.
Era como se cada semente contida na flor do sol fosse capaz de germinar em castelos com paredes de vidro, com vista pra campos infindáveis do verde que ela queria ver.
Nunca havia pensado no frio e em noites de inverno. Achava que com as plantas, sempre faria sol e tudo poderia nascer.
Passou uns dias em silêncio com suas roupas atadas à uma mala cinza na pequena varanda da casa.
Quando queria buscar por algo familiar, remexia sem receios o seu pequeno terreno e suas únicas posses.
À família ela preferia manter a certeza de sua felicidade.
Fazia esforços contínuos.
Achava que conseguia.
Vivia na eterna labuta entre os muros e arremates.
Qualquer pequeno fragmento que restasse de seus pequenos consertos, ela varria para debaixo do tapete.
Telhado, piso, paredes, varanda, quartos, cozinha, redoma, cristal, inexistência, submissão, fantasia, eternidade, fumaça, ternura, sacos plásticos, inseticidas, névoa, a noite e o dia, todos em um só, todos só pra ela, tudo só pra ela, nada só pra ela, nada.
Texto: Wandréa Marcinoni

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