Porque tinha que ser


Antes de você vir, o sol já brilhava.
Já havia o vento, a estrada e o girassol.
Antes de você o silêncio era o silêncio, os sons doíam o ouvido, os relâmpagos vinham antes dos trovões e isso, eu acho, por uma questão meramente física.
Antes de você uma estrela explodiu e sua ausência no céu não foi percebida.
Antes de você se dava bom dia e cumprimentava-se estranhos como velhos conhecidos.
As portas se abriam, as janelas fechavam, alguém da vizinhança saía para passear com o cachorro, alguém nascia, alguém chorava.
Antes de você se inventou o relógio, o avião, a televisão e todo tipo de entretenimento banal.
Antes de você havia parques de diversões, zoológico e pique nique.
Alguém acordava cedo, tomava café, se despedia e saía a trabalhar.
Antes de você e bem antes de você se inventou a pólvora, o papel e as palavras.
Antes de você e bem antes de você.
Mas então por que teimo em sentir que antes de você não havia nada?
Texto: Wandréa Marcinoni
Imagem: Maggie Taylor

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