O rio


Atrás da casa da Rua das Flores passava um rio...

Minha mãe me deu um rio.
Era dia de meu aniversário e ela não sabia
o que me presentear.
Fazia tempo que os mascates não passavam
naquele lugar esquecido.
Se o mascate passasse minha mãe compraria
rapadura
ou bolachinhas para me dar.
Mas como não passara o mascate, minha mãe me
deu um rio.
Era o mesmo rio que passava atrás de casa.
Eu estimei o presente mais do que fosse uma
rapadura do mascate.
Meu irmão ficou magoado porque ele gostava
do rio igual aos outros.
A mãe prometeu que no aniversário de meu
irmão
ela iria dar uma árvore para ele.
Uma que fosse coberta de pássaros.
Eu bem ouvi a promessa que a mãe fizera
ao meu irmão
e achei legal.
Os pássaros ficavam durante o dia nas margens
do meu rio
e de noite eles iriam dormir na árvore do
meu irmão.
Meu irmão me provocava assim:
a minha árvore deu lindas flores em Setembro.
E o seu rio não dá flores!
Eu respondia que a árvore dele não dava
piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia demais eram
os banhos nus no rio entre os pássaros.
Nesse ponto nossa vida era um afago!
Texto: Manoel de Barros
Imagem: Nirrimi

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