Para uma amiga


Um dia ela podou a árvore da vida tirando as folhas secas com grande paciência. A cada folha retirada, uma lágrima. O que restava em pensamento, ela plantava. De joelhos no seu jardim, com o sol a pino, do jeito dela. Ninguém a via, tão absorta que estava em sua tediosa tarefa. Havia os calos nas suas mãos, havia a falta de ar, havia a falta de espaço, havia o entardecer. Quando o sol começou a se apagar ela correu até a porta e pensou que a noite não lhe cabia. Nem a noite, nem a neblina, nem a cegueira. Quis gritar, mas a voz falhou. Suas mímicas e expressões de dor nada diziam . A vida foi correndo solta. Transitando no vai e vem. Com a pressa habitual. Nossas memórias do consumo, nosso sono em tarja preta. Ela ouvia assim: Tem que trabalhar! Tem que estudar! Tem que produzir! Mas ela preferia espalhar estrelas no chão e jogá-las ao vento. Assim ela pensava. Assim é que é muito mais bonito.
Texto: Wandréa Marcinoni
Imagem: Sonja Wimmer

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